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quinta-feira, 14 de março de 2013

Com meta de 5 milhões de pessoas físicas na bolsa de valores em 2018, BM&FBovespa tenta reformar o sistema de distribuição de ações para angariar mais investidores

Projeto prevê que gestoras e 'family offices' possam negociar ações

Autor(es): Por Karin Sato | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico - 14/03/2013
 

Depois de prorrogar de 2014 para 2018 a meta de atingir 5 milhões de pessoas físicas na bolsa de valores, que hoje são cerca de 580 mil, a BM&FBovespa tenta ajudar as corretoras que passam por dificuldade financeira e, ao mesmo tempo, reformar o sistema de distribuição de ações para angariar mais investidores.
A BM&FBovespa espera a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central no segundo semestre de um projeto que ampliará a rede de distribuição dos seus produtos no país, por meio de alterações no modelo de acesso à bolsa. O plano é estimular o surgimento de uma figura que será chamada de agente distribuidor, que funcionará como uma pequena corretora.
Os candidatos a agentes distribuidores são butiques e bancos de investimentos, gestoras de fundos, "family offices" [que fazem a gestão de fortuna de famílias ricas] e escritórios de agentes autônomos. E também corretoras antigas ou novatas com pouco capital para investir em tecnologia ou para depositar os R$ 25 milhões de garantias que em média são necessários para ser um participante da bolsa.
O agente distribuidor usará toda a infraestrutura de uma corretora que será denominada "plena". Não apenas a tecnologia, como também a estrutura de retaguarda administrativa das empresas. Outra vantagem é que a corretora plena depositará os R$ 25 milhões de garantias iniciais. Para ser um agente, porém, será necessário ter a autorização da CVM ou do BC para distribuir valores. O modelo tende a conferir mais escala às corretoras plenas.
O diretor executivo de operações, clearing e depositária da BM&FBovespa, Cícero Vieira Neto, afirma que a esperada expansão geográfica do mercado de corretoras ajudará a atrair mais investidores para a bolsa. A percepção da BM&FBovespa é que o modelo de acesso atual é "rígido, relativamente caro, praticamente não diferencia o perfil das corretoras e, consequentemente, não favorece a capilaridade e a expansão da rede de distribuição".
Ele comparou a futura rede de distribuição da bolsa a uma árvore. "Imagine o tronco de uma árvore e suas ramificações. O tronco é a corretora plena. O que queremos agora é um número maior de ramificações, para atrair pessoas físicas, bem como empresas que desejam investir", diz. Em sua avaliação, um dos principais ganhos para a bolsa será a expansão geográfica. "No modelo atual, há uma forte concentração no eixo Rio-São Paulo."
Vale lembrar que há alguns anos já existem as corretoras por conta e ordem, que utilizam partes da estrutura tecnológica de uma intermediária maior para executar ordens de clientes. A cearense Pax Corretora, por exemplo, usa desde janeiro de 2011 a infraestrutura da Futura Corretora. Outro exemplo é a Máxima, que no ano passado fechou parceria com a CGD Securities.
A diferença desse modelo já existente com o que pode ser aprovado, segundo Vieira, é que o agente distribuidor usará toda a estrutura da corretora plena, inclusive seu "home broker", e não apenas a tecnologia. Além disso, ele fará o cadastro do cliente e não precisará dividi-lo com a com a corretora plena. Esta, por sua vez, assumirá algumas responsabilidades, como o depósito das garantias iniciais e o controle sobre as atividades do agente distribuidor. O mais provável, diz o executivo, é que em caso de problemas, por exemplo, com um cliente, a corretora plena divida a responsabilidade com o agente distribuidor, mas o tema ainda está sob discussão.
Vieira cita o exemplo de um escritório de agentes autônomos, que hoje só faz a prospecção de clientes e o repasse de ordens à corretora parceira, recebendo desta um rebate. Supondo que a empresa passe a ser uma participante da BM&FBovespa, poderá executar e liquidar as ordens dos seus clientes, além de receber o pagamento da corretagem.
Outra mudança diz respeito à supervisão. Atualmente, distribuidoras de valores mobiliários não participantes da bolsa não são auditadas pela BM&FBovespa Supervisão de Mercados (BSM), o braço de autorregulação da bolsa. Isso mudará, caso se tornem agentes.
A vantagem para uma gestora de fundos será a chance de distribuir produtos como ações, contratos de derivativos e fundos de índices diretamente aos seus clientes, opina o diretor da bolsa. "Por ser uma estrutura mais barata e flexível, a cadeia de oportunidades serão ampliadas", diz. Já para as corretoras plenas, será um meio de intensificar a rentabilização dos investimentos em estrutura feitos no passado. "A bolsa vai se dedicar para facilitar ao máximo o ingresso dos agentes de distribuição."
O desempenho das ações neste ano não favorece a bolsa. O Índice Bovespa acumula queda de 5,85% em 2013 e de 16,10% em 12 meses. Além disso, as pessoas físicas têm reduzido a participação no pregão. Em fevereiro, o varejo representou 15,86% do volume do segmento Bovespa, ante 16,86% no mês anterior. Em 2012, a fatia era de 17,9% e em 2011, de 21,4%.