Um brinde aos lucros
Investir em vinhos é uma maneira de diversificar os riscos. Conheça as características dessa aplicação.
Um dos ditados mais comuns dos investidores americanos é “put your money where your mouth is”, que pode ser traduzido como “invista no que você come”, recomendando caminhos conhecidos do investidor. Troque comer por beber e você terá uma das mais recentes alternativas de diversificação. Existem cerca de 25 fundos de investimentos em vinhos no mundo. No Brasil, o único exemplo é o Bordeaux Wine Fund, fundo do tipo multimercado, com patrimônio líquido de E 5 milhões – R$ 12,7 milhões – gerido pela empresa paulista Cultinvest. Sua carteira é composta por vinhos finos de produtores consagrados da região de Bordeaux, na França.
"Investimento é recomendado para quem quer diversificar e também
deseja montar uma boa adega"
“Os vinhos de Bordeaux permitem que o investidor diversifique sua
carteira, pois têm uma correlação baixa com os ativos tradicionais”, diz
Alexandre Zákia, CEO da Cultinvest, de São Paulo. Ou seja, os preços
dos vinhos não seguem os altos e baixos da renda fixa e da bolsa, por
exemplo. O investimento é semelhante ao de um fundo tradicional. A
diferença é que, no lugar de ações ou títulos de renda fixa, a carteira é
formada por vinhos, que podem ganhar ou perder valor, de acordo com as
euforias e as ressacas do mercado. Para Raphael Cordeiro, planejador
financeiro e sócio da Inva Capital, essa diversificação exige que o
investidor se informe sobre onde está colocando seu dinheiro. “Estudar o
produto e o gestor reduz os riscos”, afirma Cordeiro.
A ideia de criar um produto financeiro com base nesses ativos não é
nova, mas ganhou corpo a partir de 2010. Naquele ano, a fabricante
inglesa de bebidas Diageo, dona do uísque Johnnie Walker, usou o
tradicional scotch para sanar um deficit em seu fundo de pensão – sem
afogar as mágoas dos contadores. Na época, a empresa transferiu a
propriedade de dois milhões de barris de uísque em processo de
envelhecimento de suas destilarias na Escócia para o patrimônio de sua
fundação de previdência. A medida não significa que os funcionários vão
receber aposentadorias engarrafadas para se consolar do prejuízo com o
fundo. Ao contrário, ela garante os benefícios se a Diageo não tiver
dinheiro para pagá-los.
Desde então, a ideia de investir em bebidas se popularizou, algo
que foi turbinado pelo aumento da liquidez a partir de 2008, quando
muito dinheiro passou a buscar ativos reais no mercado. Isso amplificou a
rentabilidade desses produtos. O fundo canadense Hazelton Wine
Fund, por exemplo, que investe em vinhos franceses, já rendeu 862% desde
seu lançamento, no ano 2000. Sua carteira é composta por
garrafas de safras selecionadas de acordo com a avaliação, o histórico
de qualidade e a liquidez no mercado secundário. Os vinhos que o fundo
gerido por Zákia compra são negociados na Liv-ex, bolsa eletrônica
londrina especializada nessa bebida. O índice de mercado é o Liv-ex Fine
Wine Investables Index, que engloba as safras de 24 produtores de
primeira linha de Bordeaux.
De 2006 a 2011, segundo a Liv-ex, o índice valorizou-se 132,9% em
euro e 172,1% em dólar. Como investir? Segundo Zákia, o Bordeaux Wine
Fund, lançado em meados de 2010, destina até 100% de sua carteira a
ativos offshore. Restrito a clientes superqualificados, com pelo menos
R$ 1 milhão para aplicar, o fundo ainda não conquistou nenhum investidor
brasileiro, mas conta com 35 cotistas internacionais. “Para os
estrangeiros, o tíquete de entrada é mais acessível, de E 300 mil, o
equivalente a R$ 720 mil”, diz Zákia. No Brasil, o resgate das cotas do
fundo pode ser feito apenas em dinheiro. No Exterior, existe a
alternativa de receber em vinhos. “Quem prefere o produto pode
economizar quase 50% em relação ao preço da garrafa”, afirma.
Como nem tudo são flores – ou uvas –, o investidor deve ficar atento aos riscos, comuns a toda aplicação internacional. Como
ocorre com qualquer ativo real, os vinhos correm riscos de armazenagem e
seus preços podem oscilar devido a alterações no gosto dos
consumidores. “Os riscos estão acima da média”, afirma o
consultor financeiro Cordeiro. “Quando o preço de um determinado vinho
cai, o valor da cota também recua, diminuindo o retorno do investidor.” A
saída, nesse caso, é dedicar apenas uma pequena parcela dos recursos a
fundos desse tipo, e, de preferência, com a assessoria de um expert
independente. E, se o prejuízo for grande, sempre é possível encontrar
consolo consumindo o estoque. Tim-tim!!!