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domingo, 6 de maio de 2012

Comprando na baixa e vendendo na alta por meio de uma carteira balanceada

A vitória do perdedor

Por Luciana Monteiro | De São Paulo| Valor Econômico
O professor e consultor Jurandir Macedo: a maioria saber que o melhor momento para comprar é na baixa, mas poucos conseguem colocar isso em prática
“Comprar na baixa e vender na alta” é normalmente um mantra entoado pelos economistas quando o assunto é investimentos. Um estudo realizado por Jurandir Macedo, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e consultor de finanças pessoais do Itaú, mostra, no entanto, matematicamente os benefícios de o investidor manter uma carteira balanceada.
O levantamento considera um aplicador com R$ 1 mil mensais para investir logo no início do Plano Real, em 1º de julho de 1994. Inicialmente, metade dos recursos seria investida numa aplicação corrigida pelo Índice Bovespa e os outros 50% estariam atrelados ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro interbancário que serve de referencial para as aplicações mais conservadoras).
Pela simulação, nos primeiros seis meses, o investidor colocou R$ 500,00 em cada uma das carteiras. Após o sétimo mês, esse aplicador começou a aplicar R$ 1 mil no portfólio com pior rendimento. E, sempre que uma carteira superava a fatia de 60% de participação nos investimentos, era realizada uma venda dos ativos e a compra da carteira perdedora de modo a manter a proporção de 50% a 50%.
O estudo mostra que, de julho de 1994 até 31 de dezembro de 2011, se o investidor tivesse aplicado somente no Índice Bovespa, ele teria obtido retorno de 15,88% ao ano e acumularia R$ 998,692 mil. Se, por sua vez, tivesse investido somente no CDI, teria atingido rentabilidade anual de 16,97% e, assim, acumulado R$ 1,120 milhão.
Em contrapartida, se tivesse rebalanceado sua carteira ao longo do período apostando sempre na carteira perdedora, teria obtido rendimento anual de 19,04% ao ano e, assim, acumulado R$ 1,395 milhão. Pelo levantamento, segundo Macedo, ao longo de todo esse período estudado, o investidor teria de ter realizado venda de ativos apenas oito vezes.
Ao realizar o rebalanceamento das aplicações, o investidor estará justamente comprando os ativos no momento de baixa e vendendo na alta, explica Macedo. Isso porque, se as ações se valorizarem muito, o aplicador terá de vender os papéis para reenquadrar a carteira e, dessa forma, estará vendendo as ações na alta. Já se o mercado acionário cair, ele será obrigado reduzir a fatia em renda fixa para aplicar em ações, comprando, assim, na baixa.
Apesar de a grande maioria dos investidores saber que o melhor momento para comprar um papel é quando ele está em baixa, isso não é normalmente o que se vê na prática, ressalta o professor. “As pessoas geralmente investem no que está dando certo”, afirma. Ele exemplifica ressaltando a forte demanda vista nos últimos meses por Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B, títulos com rentabilidade vinculada à variação do IPCA mais juros definidos no momento da compra).
Os números do Tesouro Direto – sistema de negociação de títulos públicos via internet – mostram que, em fevereiro, esses papéis foram os mais procurados pelos investidores, com 65,6% de participação nas vendas. E esses títulos estiveram entre os mais rentáveis no ano passado. Em 2011, a NTN-B Principal com vencimento em 2015 obteve retorno de 16,35%. Já em 2010, o destaque ficou com a NTN-B 2045, com ganho de 24,79% no ano.
Em contrapartida, no que se refere à bolsa, a queda de 18,11% do Índice Bovespa no ano passado afugentou os pequenos investidores do mercado acionário. O saldo líquido (compras menos vendas) da pessoa física encerrou 2011 negativo em R$ 7,825 bilhões. “Não adianta, as pessoas sempre vão atrás do que está se mostrando vencedor.”
Embora os benefícios da diversificação já tenham sido comprovados por Harry Markowitz em 1952 – considerado o pai da Teoria Moderna dos Portfólios e que relaciona os conceitos de diversificação e volatilidade -, psicologicamente não é fácil para o investidor apostar no ativo perdedor. “Durante a evolução humana, fomos acostumados e até treinados a seguir o líder e o líder é aquele que vence”, diz Macedo. “O investidor, então, precisa fazer um esforço brutal para pensar de forma contrária àquela a que ele está acostumado”, diz. “O que funcionava na savana não é o que vai funcionar no mercado financeiro.”

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