MERCADO EXTERNO DE AÇÕES ATRAI GESTORES BRASILEIROS
GESTOR BRASILEIRO APOSTA EM AÇÕES DOS EUA
Autor(es): Silvia Rosa
Valor Econômico - 01/10/2012
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Com os preços ainda atrativos das ações nos Estados Unidos e na Europa e
a desaceleração do crescimento de alguns países emergentes como o
Brasil e China, os investidores aumentaram as alocações nas bolsas de
mercados desenvolvidos, que têm superado a performance dos mercados
emergentes. Nesse cenário, gestores brasileiros que investem em ativos
no exterior como CSHG, Itaú Unibanco, Investidor Profissional e Teorema
têm conseguido se beneficiar da valorização das ações lá fora.
O índice MSCI que acompanha o desempenho das ações dos mercados
desenvolvidos acumula alta de 10,90% no ano (até o dia 28), superando o
ganho de 9,41% do índice dos mercados emergentes pela primeira vez desde
2009. Boa parte da queda dos mercados emergentes foi influenciada pela
China, após a revisão da projeção de crescimento do PIB para 7,5% em
2012, em março deste ano.
Desde a crise de 2008, os mercados de ações emergentes eram vistos como o
lugar das grandes oportunidades de investimento, com as economias
desses países apresentando um crescimento superior ao dos países
desenvolvidos. Neste ano, no entanto, o cenário se inverteu.
O crescimento de 2% esperado pelo Fundo Monetário Internacional para os
Estados Unidos neste ano deve ser maior que o do Brasil, cuja projeção
para o PIB do Banco Central brasileiro é agora de 1,6%. Não à toa, o
índice S&P 500 acumula neste ano alta de 14,56% e o Nasdaq, ganho de
22,89%, enquanto o Ibovespa sobe 4,27% em reais.
A perspectiva de recuperação da economia americana e o anúncio neste mês
da terceira rodada de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve (Fed,
o banco central americano) para estimular a economia têm impulsionado a
valorização das ações americanas.
A compra de ações dos Estados Unidos está cada vez mais acessível a
investidores brasileiros. A BM&FBovespa inicia hoje a negociação do
contrato futuro do índice S&P 500.
A listagem do índice permitirá o
lançamento de fundos negociados em bolsa, conhecidos como ETFs
(Exchange-Traded Fund).
Alguns gestores brasileiros já investem em ativos no exterior e têm se beneficiado da valorização das ações no mercado externo.
A Credit Suisse Hedging-Griffo tem dois fundos que podem alocar até 100%
do patrimônio em ativos lá fora, o Prisma e o Global Equities (lançado
em julho deste ano) que acumulavam alta de 19% e 3,45% respectivamente
até 26 de setembro. Entre os papéis em carteira que apresentam boa
performance neste ano estão Walmart, Walt Disney e Microsoft. "A Disney,
por exemplo, é a maior empresas de entretenimento do mundo e acumula
ganho de 39,4% no ano", diz Artur Wichmann, gestor dos fundos
internacionais da CSHG.
Segundo Wichmann, o lucro das empresas americanas tem ficado acima do
esperado. "Ao contrário dos mercados emergentes, como Brasil e China,
onde está havendo uma pressão de aumento dos salários, nos Estados
Unidos as empresas têm apresentado uma redução de custos."
Apesar da valorização neste ano, o preço das ações das empresas
americanas e europeias continua atrativo comparado com o das empresas
brasileiras. As ações da rede varejista Walmart, por exemplo, estão
sendo negociadas a uma relação preço/lucro para 2013 [indicador
utilizado para medir o tempo de retorno de um investimento] de 14 vezes,
enquanto o múltiplo do Pão de Açúcar gira ao redor de 19 vezes, destaca
Wichmann. "Se você olhar o Ibovespa, o que mais caiu foram Vale e
Petrobras, mas as ações do setor de consumo continuam caras."
O family office Teorema Gestão de Ativos também tem apostado na
valorização das ações de empresas americanas. "Hoje os múltiplos das
duas bolsas estão muito parecidos, mas apostamos mais em uma recuperação
da economia americana do que em um crescimento acelerado do Brasil ",
afirma Guilherme Affonso Ferreira, presidente da Bahema Participações e
gestor da Teorema.
O fundo da Teorema que investe em ações no exterior acumulava ganho de
13,44% até 26 de setembro. Entre as ações que contribuíram para a boa
performance do portfólio estão os papéis do Citibank, com alta de 24,5%
no ano. "O banco sofreu com a crise financeira de 2008, mas conseguiu
recuperar parte das perdas e tem apresentado bons resultados", diz
Ferreira.
O gestor da Teorema tem buscado investir em companhias com atuação
global. "É o caso da fabricante de máquinas industriais Caterpillar, que
deve se beneficiar dos investimentos em infraestrutura na China e no
Brasil." No setor de tecnologia, o gestor vê oportunidade de valorização
nos papéis da Intel, que acumula queda de 4,3% no ano. "A empresa tem
95% do mercado de chips para computadores e acreditamos no aumento da
aplicação deles na indústria."
A Investidor Profissional, que investe no mercado externo desde 2001,
também tem buscado empresas do setor de tecnologia nos Estados Unidos,
com destaque para Microsoft, Google e Amazon, segundo dados do relatório
de gestão da IP do segundo trimestre. Só a Amazon acumula ganho de
46,9% no ano.
A crise da dívida soberana na Europa também trouxe oportunidades de
compra nas bolsas europeias. A CSHG tem olhado alguns ativos, tendo
investido em papéis da operadora do aeroporto de Zurique, Flughafen
Zurich, e nas ações da montadora Volkswagen.
Não só as grandes empresas americanas, de maior liquidez e capitalização
de mercado, têm oferecido boas oportunidades. O Itaú Unibanco lançou em
2010 um multimercado, o Brasil EUA, que investe até 20% do portfólio em
"small caps" americanas, e acumulava ganho de 27,88% no ano até 26 de
setembro. "O fundo procura investir no exterior em setores que não têm
participação na bolsa brasileira como saúde e tecnologia", diz Paulo
Corchaki, diretor de gestão da Itaú Asset Management.
Uma das ações americanas com melhor desempenho no portfólio é a
Amphenol, que fornece conectores de alta performance para os setores de
consumo, industrial e de produtos aeroespaciais, que subiu 30,5% neste
ano.
Mesmo com a forte valorização da bolsa americana neste ano, o gestor da
CSHG acredita que o mercado de ações lá fora ainda deve continuar
atrativo. "Com o juro real negativo nos EUA, os investidores devem
procurar ativos de maior risco que oferecem retornos mais altos", diz
Wichmann.
Para Corchaki, do Itáu, o movimento forte de valorização das bolsas
americanas já passou. "Os Estados Unidos devem continuar entregando
resultado, mas a bolsa brasileira tem um potencial interessante de alta
para o que vem."
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