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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Home Broker x Agentes Autônomos x Corretores o que é melhor para as Corretoras ?

Crise leva corretoras a repensar estratégia com 'home broker'


 
18/10/2012 às 00h00
 
Para Raymundo Magliano Neto, da Magliano Corretora, pessoa física ainda não sabe investir na bolsa por conta própria

O lançamento do home broker pela Bovespa em 1999 foi comemorado como uma inovação que prometia resolver o problema da distância entre as pessoas físicas e o mercado acionário. A ferramenta, que permite a compra e a venda de ações pela internet, com o tempo ganhou a adesão de praticamente todas as corretoras com foco no investidor individual, apesar dos custos envolvidos. Mais de dez anos depois, porém, algumas delas já começam a questionar o quanto o sistema de fato pode ser benéfico a seus resultados financeiros e até mesmo às próprias pessoas físicas.

A Magliano Corretora revelou ao Valor que não venderá mais o serviço de home broker. A decisão foi tomada após a constatação de que as pessoas físicas não sabem investir na bolsa por conta própria, explicou Raymundo Magliano Neto, que sucedeu o pai Raymundo Magliano Filho, ex-presidente da bolsa, no comando da corretora. "Infelizmente, não tem como deixar as decisões nas mãos delas [as pessoas físicas]", afirma. "Este ainda não é momento para vender home broker no Brasil."

Apesar disso, os atuais clientes da corretora que já tiverem a plataforma poderão continuar com o sistema, esclarece Magliano Neto. O plano agora é intensificar os esforços na comercialização de produtos como fundos de investimento e carteiras administradas.

Fontes ouvidas pelo Valor estimam que o "tempo de vida" médio das pessoas físicas no mercado acionário não passa de um ano. É comum o investidor de varejo fugir da bolsa de valores assim que perde dinheiro e, muitas vezes, ele nunca mais retorna. O problema é que, desde a crise financeira de 2008, perder dinheiro com ações tornou-se mais comum, devido às turbulências na Europa e no cenário macroeconômico global.

O número de pessoas físicas na bolsa de valores cai continuamente. No ano passado, passou de 610.915 para 583.202. Já em setembro, esse número era de 568.900. Além disso, a quantidade de investidores ativos, isto é, que movimentam suas aplicações ao menos uma vez por mês, já estaria em menos de 100 mil, de acordo com estimativa de Amerson Magalhães, diretor do Easynvest, plataforma de negociações da Título Corretora.

Em 2010, quando os executivos das corretoras citavam o investimento em home broker, falavam de um mercado potencial de R$ 1 trilhão. A estimativa tinha por base a movimentação das plataformas no ano anterior, de R$ 378,5 bilhões, e a projeção da BM&FBovespa na época de 5 milhões de pessoas físicas na bolsa em 2014. Procurada, a BM&FBovespa explicou que não tem dados mais atuais específicos sobre o segmento de home broker.

A Magliano foi uma das primeiras corretoras a vender home broker, que, no início, tinha o nome de 'multi broker', explica Julio Cesar de Oliveira, diretor do segmento de fundos de investimentos. "Não tivemos de investir muito, porque, na época, a então Bovespa ofereceu um patrocínio a dez corretoras", relata. "Aqueles que tiveram de investir no serviço direcionaram no mínimo R$ 3 milhões, mas há quem tenha investido R$ 10 milhões."

Eduardo Jurcevic, diretor da Santander Corretora, diz que o home broker é um canal importante para o investidor, mas que só deve deslanchar a médio ou longo prazo. "No momento atual, o investidor valoriza mais a conversa com especialistas", diz, ao explicar por que a corretora optou por direcionar esforços ao atendimento personalizado. Atualmente, a instituição conta com 103 salas de ações, com dois especialistas em aplicações em cada uma delas.

Na Um Investimentos, entre 1.480 e 1.800 pessoas acessam o home broker por dia. O gerente comercial Thiago Audi explica que o serviço "gera receita e se paga", entretanto não é o que mais dá lucro para a corretora hoje, perdendo para as ordens realizadas via agentes autônomos (680 profissionais). Porém, apesar de ter um custo operacional alto, a corretora não poderia deixar de oferecer home broker, porque há clientes que preferem operar sozinhos, afirma Audi.

Magalhães, do Easynvest, diz não se surpreender com a saída de participantes do segmento de home broker, uma vez que, antes da crise de 2008, o mercado tinha expectativas nada factíveis. "Quem acreditou que a bolsa hoje teria 5 milhões de pessoas físicas certamente está revendo suas estratégias", afirma.

O executivo ressalta que, a despeito do momento difícil enfrentado pelo mercado acionário, a Título sempre foi uma corretora focada em bolsa e em pessoas físicas - e que isso não mudará. A expectativa é que, com o movimento de redução da Selic, o retorno dos fundos de renda fixa se distancie da inflação. "Isso fará com que o investidor procure alternativas e, para quem quer investir na bolsa, o home broker é a melhor ferramenta", diz. "O home broker veio para democratizar o mercado de capitais. É um caminho sem volta."

Roberto Lee, diretor da Clear Corretora, avalia que o problema principal é que há no mercado cerca de 60 corretoras que atendem pessoas físicas, mas o volume movimentado na bolsa está concentrado em apenas 15 delas. "No setor, sempre há participantes entrando e saindo", afirma. O custo fixo de manutenção, para quem oferece o serviço de home broker, é elevado, explica Lee. "Esse custo varia muito, mas estimo algo entre R$ 500 mil e R$ 800 mil. Depende do tamanho da corretora, se trabalha com agentes autônomos, da folha de pagamentos", diz. Ele avalia que apenas com telefonia esse gasto deve ficar entre R$ 50 mil a R$ 80 mil.

Enquanto algumas corretoras deixam o segmento de home broker em segundo plano, novatas aparecem, mas com estratégias inusitadas. Esse é o caso da Clear, cujas operações começaram em junho. Por entender que o investidor iniciante já está "bem servido", com o trabalho educacional feito pelas corretoras independentes e a capilaridade dos bancos, os sócios da corretora decidiram focar nos investidores individuais com conhecimentos avançados de instrumentos financeiros, ofertando ferramentas de negociação eletrônica que viabilizam operações mais sofisticadas.

Há ainda participantes que, em busca de melhores resultados financeiros, decidiram fazer altas apostas na plataforma, como a Walpires Corretora. A empresa reestruturou a área de varejo no fim de 2011. A meta atual é dobrar o número de clientes dentro de aproximadamente um ano. "Quero ficar entre as dez primeiras em volume movimentado no ranking", diz o gerente de home broker, Rafael Moreira.

Apesar de as antigas metas que o mercado tinha para a plataforma eletrônica terem ficado distantes, hoje há corretoras 100% eletrônicas, como a Octo Investimentos, que vive apenas do home broker, batizado de "rico.com.vc". Quando a Link foi comprada pelo banco suíço UBS, este não teve interesse na área de varejo da empresa, que acabou constituindo a Octo.

A diretora Mônica Saccarelli relata que quando a corretora nasceu, em meados de 2011, tinha uma fatia de participação no mercado de 1,8%. Hoje esse percentual já chega a cerca de 5%. "Cada corretora está buscando seu nicho e focando no que é boa", opina a executiva, que aposta fortemente no crescimento futuro do home broker. "Basta olhar o número de horas que o brasileiro fica na internet. Os mais jovens estão mais familiarizados com a web. Eles nem conhecem o gerente do seu banco."

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