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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Suposto esquema de pirâmide em Factoring dá prejuízo a 450 executivos investidores

Factoring dá prejuízo a 450 executivos

Entre os acionistas, um dos mais expressivos é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim

28 fev, 2011

Um suposto esquema de pirâmide estourou na última sexta-feira no coração financeiro de São Paulo, deixando prejuízos e gosto amargo na boca de um grupo bastante seleto de investidores. A empresa de factoring conhecida como Porto Forte Fomento Mercantil, uma sociedade anônima de capital fechado que faz empréstimos para pequenas e médias empresas, suspendeu o resgate de suas ações depois que parte de sua diretoria descobriu a existência de um rombo patrimonial em suas contas.

As cifras envolvidas não são bilionárias como no escândalo do investidor Bernard Madoff – trata-se de algo bem inferior a isso pelo que se pode apurar até o momento. Mas o estrago ganha relevo devido ao peculiar perfil dos investidores que se deixaram levar pela promessa de ganhos expressivos. Banqueiros de investimentos, analistas de ações, gestores de carteiras e advogados compõem o quadro de acionistas da Porto Forte que até o início da semana passada acreditavam ter feito um excelente negócio. Assim como no fundo de Madoff, as ações da Porto Forte ofereciam, ao menos virtualmente, um rendimento fixo, sob a forma de dividendos. Algo que girava em torno de 160% do Certificado de Depósito Interfinanceiro. Era um dividendo obrigatório fixo, algo inusitado em se tratando de um investimento de renda variável. Entretanto, o ganho só se tornava real quando o investidor vendia suas ações para a tesouraria da Porto Forte. Ao todo, hoje são cerca de 450 acionistas e, além dos qualificados profissionais ligados ao mercado financeiro, há ainda amigos e familiares que até agora acreditavam ter recebido deles aquela tão ansiada dica preciosa de aplicação. Entre esses acionistas, um dos mais expressivos é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim e dono da gestora de recursos Perfin, conhecido no mercado financeiro como Beto Moraes. Ele passou a investir na Porto Forte no ano passado e ingressou no conselho consultivo da empresa, sem participação na gestão. Seu nome e assinatura constam de atas das assembleias de acionistas de 2010. Procurado por meio da assessoria de imprensa do grupo Votorantim, Moraes não foi encontrado para comentar.

Criada em 2002 por um grupo de jovens formados nas melhores faculdades de administração, economia e contabilidade do país, a Porto Forte foi crescendo na base do boca a boca. Animados com os retornos, uns foram indicando o investimento aos outros e há relatos de gente que saiu antes de o esquema estourar e ganhou muito dinheiro. O sócio principal da empresa e que ocupa a sua presidência é o economista formado na Unicamp Guilherme Affonso Ferreira de Camargo, de cerca de 35 anos de idade, e que no início da carreira atuou no departamento financeiro da multinacional Procter & Gamble. É ele quem concentra hoje a ira dos investidores, que acreditam que foram traídos por Guilherme em sua confiança.

Entre os acionistas, um dos mais expressivos é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim

Na prática, a Porto Forte funcionava como uma espécie de fundo, que captava recursos dos investidores com a venda de suas ações. Quando um desses acionistas queria sair, a tesouraria recomprava os papéis, dando liquidez ao investimento. Isso fazia com que o quadro acionário da Porto Forte tivesse uma alta rotatividade, variando de acordo com o movimento de resgates e de aportes de novos investidores via ações preferenciais. Ou seja, uma sociedade anônima de capital fechado vinha captando recursos de um grande número de acionistas no mercado à margem de qualquer tipo de regulamentação ou fiscalização.

Paralelamente a esse mecanismo de acionistas, conforme crescia, em 2008 a empresa criou um fundo de direitos creditórios (FIDC) que leva o seu nome, hoje com patrimônio de cerca de R$ 50 milhões.

Quando o fundo foi criado, o dinheiro dos acionistas passou a ser usado para comprar cotas dos fundos, não quaisquer cotas, mas aquelas chamadas de subordinadas. São as cotas mais arriscadas, que devem arcar com a inadimplência eventual da carteira de recebíveis e que, por terem mais risco, podem acabar oferecendo um retorno também maior. As chamadas cotas sênior são as mais seguras numa estrutura como essa. Parte das cotas sênior do fundo estava com investidores como a gestora BRZ e a Valora. Em 2010, o FIDC Porto Forte Multissetorial reportou que o rendimento de suas cotas subordinadas foi de impressionantes 46% no ano.

Há poucos dias, esse rendimento começou a mostra-se bom demais para ser verdade. Segundo o relato de investidores e pessoas familiarizadas com a questão, foi constatado um rombo patrimonial da empresa Porto Forte. Até o momento, o fundo estaria a salvo de problemas. A cifra à qual o conjunto de mais de 450 investidores da empresa acreditam ter direito não existe. O patrimônio da empresa, embora positivo em R$ 12 milhões, é insuficiente para pagar o principal e os dividendos aos quais os acionistas acreditam ter direito, de acordo com a política de remuneração acertada. As perdas para os investidores da empresa devem ser de, no mínimo, 50%. A rigor, entretanto, esses investidores de perfil bastante qualificado deveriam saber dos riscos envolvidos no investimento em ações, que pressupõe renda variável e não garante liquidez ou retorno.

Os problemas teriam sido descobertos por Marcos de Alcântara Machado, um ex-executivo da gestora Claritas, também investidor da Porto Forte e que, na página da empresa na internet, aparece no quadro de sócios.

Luciana Lima, vice-presidente da Porto Forte, que chegou à empresa em 2009 para cuidar do FIDC, falou ao Valor ontem e contou ter convocado uma reunião de sócios ocorrida no último dia 17 para dar ciência a todos de que “havia indícios de má gestão e possível utilização indevida do caixa.” “Também houve venda de ações em desacordo com o valor contábil”, diz ela. Luciana diz que Guilherme Camargo comprometeu-se a entregar um relatório respondendo a essas duas questões até o dia 4 de março. “O Guilherme era responsável pela gestão do caixa e era o executivo de relação com investidores da empresa.” Por conta das inconsistências, diz a executiva, a compra e venda de ações pela tesouraria da empresa foi suspensa temporariamente. Essa decisão disseminou o pânico entre os investidores. “Mas a empresa não quebrou. Ela tem patrimônio líquido positivo de cerca de R$ 10 milhões e caixa”, afirma ela. O balanço da factoring Porto Forte do primeiro trimestre de 2010 mostra que a factoring operava com um prejuízo de R$ 384,8 mil. Em igual período de 2009, a empresa também havia registrado um prejuízo de R$ 412,3 milhões.

Quanto ao fundo, Luciana afirma não haver problemas. “O fundo está operando normalmente, é muito difícil entrar em liquidação. Tem uma subordinação de 25%, R$ 10 milhões em caixa, e os investidores são de longo prazo.”
Apesar de diversos interlocutores garantirem que o FIDC da Porto Forte não tem problemas, se houvesse saques expressivos nas cotas subordinadas, o fundo deixaria de cumprir a meta de 22,5% de subordinação. A Socopa, administradora do fundo, informou, por meio da assessoria de imprensa, que já foi questionada pela CVM, mas que comunicou que não há nenhuma irregularidade e que, se há algum problema, não é no fundo.
Acionistas ouvidos pelo Valor dizem ter recebido dos sócios gestores da Porto Forte a informação de que Guilherme Camargo teria desviado dinheiro da empresa, inclusive para o exterior. A diferença patrimonial, dizem esses investidores, seria da ordem de R$ 10 milhões. Luciana diz não saber dizer se houve algo nesse sentido (desvio). “Contratei a Price para fazer um levantamento.” Os investidores dizem também que a Porto Forte teria emprestado dinheiro a uma empresa da família de Guilherme.

Fonte: Carolina Mandl, Adriana Cotias, Vanessa Adachi e Alessandra Bellotto, Valor Economico

2 comentários:

  1. Isto É Dinheiro Nº edição: 700 | Negócios | 04.MAR - 12:00 | Atualizado em 05.03 - 15:11

    Cadê meu milhão?
    Grandes investidores, como José Roberto Ermírio de Moraes Filho, compram ações de empresa de factoring e perdem fortunas. Por Cláudio Gradilone

    O economista Guilherme Camargo é um sedutor. Aos 35 anos, o fundador e diretor-presidente da empresa de factoring Porto Forte convenceu cerca de 500 investidores muito especiais a comprar ações de sua companhia. Muitos de seus sócios-investidores são jovens bem-nascidos e milionários que trabalham em bancos de elite do mercado financeiro.

    O mais famoso é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, 25 anos, um dos herdeiros do Grupo Votorantim. Seu pai, José Roberto Ermírio de Moraes, chefia a holding que concentra as participações em empresas industriais do grupo.

    Beto Moraes, como é conhecido, investiu R$ 1 milhão em setembro de 2010 em ações da Porto Forte por meio de sua empresa de participações, a Infinity Venture. Passados sete meses, ele e os outros investidores descobriram que o sedutor canto da sereia era enganoso: todos foram vítimas de uma grande falcatrua.

    A Porto Forte funcionava como uma espécie de corrente da felicidade. Ela prometia aos acionistas algo inusitado, uma rentabilidade fixa – 160% da taxa do CDI – para um investimento em renda variável.

    O porte da tramoia não chega aos pés das malvadezas do investidor americano Bernard Maddoff, mas surpreende porque vitimou muitos analistas de ações, empresários e executivos do mercado financeiro.

    Muitos trabalhavam em bancos de grife como Merrill Lynch, Citibank e Goldman Sachs. Generosas fatias de seus bônus anuais foram aplicadas na compra de ações da factoring e, ao que tudo indica, viraram pó.

    A alegria era geral até meados de fevereiro, quando foi descoberto um rombo no caixa da Porto Forte, e seus sócios, que só realizavam o lucro ao revender as ações para a própria companhia, ficaram impedidos de resgatar o dinheiro.

    Matéria complta em:
    http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/50954_CADE+MEU+MILHAO

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  2. CVM beneficia investidor da Porto Forte
    Autor(es): Carolina Mandl e Alessandra Bellotto | De São Paulo
    Valor Econômico - 14/04/2011
    http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/14/cvm-beneficia-investidor-da-porto-forte

    A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deu o sinal verde para um dos principais pontos do plano de salvamento de cerca de 450 investidores que aplicaram na Porto Forte, factoring envolvida em um suposto esquema de pirâmide.

    Segundo o Valor apurou, a autarquia autorizou a conversão de ações preferenciais em cotas do fundo de recebíveis da Porto Forte, que continua em funcionamento e tinha como único cotista subordinado a própria factoring. Com isso, se o fundo tiver um bom desempenho, os antigos acionistas da Porto Forte podem recuperar o dinheiro aplicado na factoring. Nos próximos dias, a decisão da CVM deve se tornar pública no site da autarquia.

    Porém, pela decisão da CVM, nem todos os investidores poderão fazer essa conversão de seus papéis preferenciais. Isso porque, de acordo com o regulador, só podem investir em fundos de recebíveis - conhecidos pela sigla FIDC - pessoas com mais de R$ 300 mil em aplicações. Isso não engloba o total de 450 investidores da Porto Forte.

    Administradora do fundo, a Socopa tinha solicitado à CVM a dispensa do cumprimento do requisito de investidor qualificado para o resgate das ações. Sugeriu, ainda, um prazo de seis meses para eles comprovarem que possuem mais de R$ 300 mil em aplicações.

    Porém, em uma primeira decisão, a CVM indeferiu o pedido sob o argumento de que as "dispensas não foram solicitadas no interesse do fundo ou de seus cotistas, mas para viabilizar uma solução de proteção aos investimentos realizados na companhia pelos acionistas preferencialistas". A autarquia destacou também que a Porto Forte é uma companhia fechada, que não se encontra, portanto, sob a regulação da CVM.

    A Socopa entrou, então, com um pedido de reconsideração à autarquia, que acabou autorizando apenas a conversão das ações preferenciais em cotas subordinadas do fundo de recebíveis.

    O Valor apurou que a Socopa ainda está em fase de levantamento da quantidade de acionistas que não são qualificados. Uma análise preliminar indica que sejam poucos e que poderiam ser pagos em dinheiro, a partir do resgate de cotas do fundo pela própria Porto Forte. Dos 450 acionistas, 236 já receberiam em dinheiro. São investidores que possuíam até R$ 1,3 mil em ações. Já os acionistas ordinários da Porto Forte terão a perda total do investimento feito.

    Depois do escândalo que estourou em torno da Porto Forte no fim de fevereiro, a gestão do fundo da Porto Forte foi transferida da factoring para a SRM, uma gestora especializada em fundos de fomento mercantil.

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